sexta-feira, 9 de julho de 2010

Rei por acaso

Aos 47 anos, Nicanor descobriu que podia ser Pelé

Por Débora Nobre

Marcamos o encontro na Galeria Metrópole. Ao telefone, Nicanor Ribeiro disse que sempre vai ao endereço e estaria lá nos esperando. Avenida São Luís, centro de São Paulo. Antes de sairmos de casa naquela segunda-feira ensolarada, ligamos para confirmar a entrevista. Ele já não se lembrava do compromisso. “Esqueci de marcar na minha agenda”, desculpou-se. Vida de Rei é atarefada...
Nicanor tem 52 anos e a sorte de ter nascido igual ao Rei Pelé, astro do futebol mundial. Sorte ou azar? ”No começo foi difícil, as pessoas riam e diziam: olha lá, ele ‘tá’ se achando!”, desabafa.
Nicanor pode se achar mesmo. Tirando a barriguinha e o fato de ser um perna-de-pau, ele é a cópia do Pelé. “Estou aprendendo a gostar de futebol agora”, diz envergonhado. Percebe-se. Enquanto conversamos, passa na TV ao lado um jogo da Copa do Mundo: Japão e Camarões. E ele nem dá bola.
Estamos no salão do Machado, seu amigo há 12 anos. “É ele quem cuida do meu visual”. Nicanor usava barba e bigode até a transformação. “O principal é arrumar o cabelo do jeitinho do Rei. É o corte Pelé”, revela Machado.
Antes de sairmos, Nicanor pede a opinião do amigo. “Fico com o casaco do Santos ou com a camisa da seleção?”, pergunta. “Vai com a da seleção e coloca para fora da calça”, aconselha Machado.
E onde começou toda essa história de ser outra pessoa? “Em 1997, fui para Orlando, nos Estados Unidos, e as pessoas paravam para tirar fotos comigo”, conta. Ele estranhou o que estava acontecendo. “Achavam que eu era o Pelé”. No começo, nem deu bola para o episódio. “Pensava que era besteira, não que pudesse dar dinheiro”. Um ano depois perdeu o emprego e, em 1999, sua mãe faleceu. Tudo parecia uma bola de neve. Entrou em depressão e começou a fumar e a beber.
Apenas em 2002 a marca Pelé grudou em Nicanor. Foi quando conheceu a sósia da atriz americana Woopy Goldberg. “Veruska de Souza é minha madrinha”, declara. Ela deu a idéia para ele assumir este presente: ter nascido à cara do ídolo. Decidiu participar de um programa na TV Gazeta. “Comecei a aparecer e ganhei minha profissão”.

Sua vida mudou. Com a sorte de ser Pelé, vieram os deveres de Rei.“Ele foi o atleta do século. Como um cara que bebia e fumava poderia parecer com ele?”, reflete. Nicanor abandonou os vícios e, evangélico como muitos atletas profissionais, acredita que Deus o ajudou a superar suas dificuldades.
Preparado para seguir a carreira de sósia, chegara o momento de encarar os fãs. Ídolo que é ídolo dá autógrafo e tira milhares de fotos por aí. “Antes, eu estava cheio de problemas, e tinha que ser simpático a qualquer hora”.
Agora, já parece à vontade. Em poucos minutos, as pessoas perdem a timidez e começam as fotos. “São umas 50 por dia”. Três rapazes passam por nós e ficam perplexos. “Ele é muito igual ao Pelé”, comenta um deles com os amigos.
Nicanor está famoso. “Sabe que eu nunca pensei nisso? Ser famoso pode ser perigoso”, preocupa-se. Na Globo, aparece todo dia 31 de dezembro. “Sou corredor de rua e participo da São Silvestre”. Na Band, foi entrevistado pelos meninos do CQC. “Me perguntaram: que Xuxa você comeu? Eu disse: a de mentirinha”, ri. Também esteve no “Mais Você”, programa de Ana Maria Braga. “Nos bastidores, eu pedi e ela me deu um selinho”. E na Hebe? “Ah, na Hebe ainda não”, lamenta.
A esposa não sente ciúmes. “Estamos juntos há 35 anos. Temos 5 filhos e moramos na Vila Medeiros, onde ele nasceu. Eu casei com o Nicanor, mas já me acostumei com o Pellé”, confidencia Tânia Pereira Ribeiro.
E Nicanor faz questão de manter sua personalidade. “Ele é Pelé, eu sou Pellé; se ele diz entende, eu digo compreende; ele é 10, eu sou 100”, brinca. E Pelé... conhece Pellé? “A Assíria [ex-esposa de Pelé] nos apresentou”. Ganhou o aval do Rei para ser seu sósia oficial. “Depois daquela foto, fiquei mais seguro”, afirma.
Hoje, Nicanor trabalha como Pellé em eventos e promoções de empresas. Além disso, apresenta o “Ensaio de Bambas” na Rádio Cumbica (1500 AM). “Durante o Carnaval, falamos sobre samba e futebol”, explica.
Há muitos planos pela frente. “Quero escrever um livro com a minha história e estou montando a seleção brasileira de sósias. Faremos a campanha ‘Paz nos Estádios’”, planeja. Na família Pellé estão os sósias de Roberto Carlos, Kaká, Ronaldinho Gaúcho. Parece que esse negócio de nascer pronto para o sucesso dá mesmo futuro.


Cara a cara com Pellé


2 comentários:

  1. Parabéns pela reportagem.Estamos curiosos de conhecer os outros sósias: Roberto Carlos, Kaká, Ronaldinho (ão)... Catarina

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  2. Rosângela Gonçalves11 de julho de 2010 às 10:19

    De Rosângela para Débora:
    Poxa! Só posso mesmo estar orgulhosa de você, Débora! Escolheu o jornalismo e ainda sabe comentar futebol como gente grande mesmo. Adorei o texto e, como sua fã e de todo tipo de esporte,peço-lhe que, poste reportagens e fotos dos nossos meninos do vôlei e do basquete. E pra ficar nota 11 o blog de vocês, não deixem de mencionar o meu TIMÃO. Eu lhe desejo mais sucesso ainda. Saiba que sempre falo de você como exemplo para os meus alunos.
    Um beijão!!!!!!!!!!!!!!!!!1
    Rosângela Gonçalves

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