sábado, 10 de julho de 2010

Deus no futebol

A filósofa Marina Jarouche é leitora do Pelo Brasil, Pelo Mundo. Ela é nossa convidada especial para falar sobre a importância da fé para os jogadores de futebol.

Por Marina Jarouche
We belong to Jesus!

“O futebol é uma religião no Brasil”, observou muito bem Joseph Blatter, presidente da FIFA, na festa de lançamento da logomarca da Copa do Mundo de 2014, que aconteceu dia 8/7. Não só no Brasil, mas ao redor do mundo as pessoas torcem, sofrem e comemoram a vitória de seus times com paixão e fé inabaláveis. E esta mesma fé que move torcedores, também move alguns dos ídolos dentro de campo.

Em 2009 o mundo pôde presenciar uma das cenas mais emblemáticas desta devoção. Foi na conquista da Copa das Confederações. Após conquistar o tricampeonato, a seleção brasileira e a comissão técnica ajoelharam-se em círculo no meio-campo do estádio Ellis Park, em Johanesburgo, para rezar o Pai Nosso e a Ave-Maria. Para completar a cena teísta, Lúcio e Kaká exibiram camisetas com os dizeres ‘I love Jesus’ e ‘I belong to Jesus’, respectivamente, durante a premiação.


Porto seguro

Mas por que a fé encontrou um lugar tão sedimentado dentro do futebol? Para o graduado em Educação Física e mestre em Ciência da Religião, Clodoaldo Gonçalves Leme, o futebol profissional oferece ao atleta um risco à carreira ou uma possibilidade de lesão, levando-o a apelar para o sobrenatural.

Em sua tese de mestrado É Gol! Deus é 10 – A religiosidade no futebol profissional paulista e a sociedade de risco, Clodoaldo afirma que o grande risco de prejuízo à própria carreira e/ou saúde fazem com que os jogadores estejam mais inclinados a se apegar à religião. Neste caso, a religião funcionaria como uma esperança, um porto seguro, um lugar onde ele pode acalmar sua ansiedade, frente à incerteza de seu destino profissional.



Só os melhores vencem

Se compararmos o jogador de futebol com um escritor, por exemplo, fica mais fácil entender esta inclinação. A atividade intelectual é basicamente racional: o sucesso ou insucesso de uma obra depende muito mais da prática individual. Além disso, o sucesso de um autor independe do insucesso de outro. Há espaço para todos os bons intelectuais venderem seus livros.

Por outro lado, em uma Copa do Mundo temos vários “best-sellers”, mas somente um será consagrado o campeão daquele ano. Apenas um jogador será o artilheiro, o melhor do mundo, e assim por diante. Na atividade intelectual a disputa travada não é pela vitória como uma taça a ser conquistada apenas no final. Os escritores, músicos, artistas competem intelectualmente, com suas obras individuais, ao longo de toda sua vida profissional.

Enquanto os jogadores entram em campo sem saber o que vai acontecer, os escritores têm o controle do que estão fazendo, eles têm acesso ao resultado final de seu trabalho antes do público. Sua obra pode até não ser aceita, ou não tão bem aceita como esperado, mas o escritor sabe exatamente o que vai estar lá nas mãos do público para ser julgado.

Já o jogador de futebol treina, treina, treina... para mostrar em 90 minutos a que veio, e não importa o quão bem ele treinou, ou o que dizem dele saber jogar. Se ele falhar nesses 90 minutos, é isso que vai marcar. Porque o que importa é a vitória, é o título... São aqueles 90 minutos que precisam ser impecáveis, sem falhas, e que não depende apenas dele, ele pode jogar bem, mas o outro pode jogar melhor, pode ter um chute certeiro, mas o goleiro pode ser uma muralha, ou ainda pode sofrer uma falta grave no meio do jogo e ter que sair...

Por isso a fé, a fé de que à sua habilidade sejam somadas todas as outras circunstâncias favoráveis ao êxito, circunstâncias que estão completamente fora de seu alcance e controle.

2 comentários:

  1. Emocionou. Meu domingo ficou bem melhor. E que ganhe aquele que apresentar o melhor jogo. Não importa se for Holanda ou Espanha. Se der Espanha vamos torcer para que os bascos e catalães (cidadãos espanhóis) comemorem e muito a vitória e não a derrota da seleção espanhola. Vitório

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  2. Rosângela Gonçalves11 de julho de 2010 às 10:31

    Hoje, pela Holanda pelo mundo.

    Como amante do futebol e, por não ter como torcer mais pelo Brasil na final, coloco minhas esperanças na Holanda, que já está, há muito, merecendo o seu título mundial.
    Que a laranja não azede hoje!!!!!!!!!!!!!
    Rosângela Gonçalves

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