Entre o céu e o sal
Por Nara Mourão
Onde começa o céu e onde termina o chão? O Salar de Uyuni, o maior deserto salgado do mundo, impressiona o olhar dos incautos e dos que pensam já ter visto tudo. Os guias locais afirmam convictos que o artista catalão Salvador Dalí foi um dos visitantes que passou pela Bolívia e se encantou por aquele trecho do altiplano andino. “Surreal!” deve ter sido o comentário de Dalí diante da imensidão branca de 12 mil quilômetros quadrados.
A cidade de Uyuni é o ponto de partida do passeio. Existem diferentes maneiras de conhecer o Salar, em carro alugado, particular ou via agência de turismo. A tração nas quatro rodas e guiar junto a uma frota são alguns dos pré-requisitos, já que não existem estradas oficiais e andar em círculos no deserto é mais fácil do que parece. Quem se aventura a conduzir no Salar, não o faz sem muito preparo anterior.
As agências são a opção da maioria dos viajantes. Existem pacotes curtos que restringem o passeio ao deserto de sal (duram um dia) ou pacotes clássicos, como o que cruza o Salar e termina em São Pedro de Atacama, no Norte do Chile (3 dias e 2 noites). Este trajeto contempla uma série de formações naturais que povoaram nossos livros de geografia e ajuda a acabar com a supremacia imaginária - dos turistas, diga-se de passagem - da lhama como único animal andino. Flamingos, vicunhas, alpacas e o coelho vizcacha preenchem o olhar com o novo.
Que esses animais não saibam o cardápio do primeiro almoço no cenário de cáctus da Isla del Pescado, uma das paradas em meio ao deserto. Segundo o guia-motorista-cozinheiro do meu grupo, autodenominado Charles Bronson por uma forçada semelhança física com o ator de faroestes, a carne que cozinhava desde cedo na parte de cima do carro era de lhama. Quando já estávamos abrigados na primeira hospedagem e Bronson, El Matador (inofensivo como uma alpaca) sugeriu que o frango fosse um delicioso flamingo comecei a colocar em xeque metade das altitudes que ele informava a cada 15 minutos percorridos.
O dia seguinte tem como gratas surpresas as lagunas altiplânicas, o terroso deserto do Siloli e uma formação curiosa que se assemelha a uma árvore moldada em pedra, a Árbol de Piedra. Ao longe, vulcões contribuem com a beleza do cenário. El Matador nos explica que esses montes ajudam na orientação devido à ausência de estradas e de um GPS. A segunda noite é num abrigo bastante precário dentro da Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa. Para compensar a inevitável falta de banho e o banheiro abaixo da crítica, delicie-se com a visão da Laguna Colorada e suas tonalidades que vão do marrom ao vermelho intenso, rica em microorganismos e flamingos.
Dicas:
Também é possível conhecer a região iniciando o passeio em San Pedro do Atacama. Ou, ainda, retornar a Uyuni no 3º dia sem entrar no Chile.
O ideal é chegar a Uyuni um dia antes do passeio para fazer os acertos com a agência, ter tempo de conversar com turistas recém-chegados do percurso, comprar água, papel higiênico, e “belisquetes” para comer no deserto enquanto a refeição seguinte não vem. A cidade é apenas um lugar de passagem, portanto não perca tempo por lá.
Vale pesquisar bastante sobre a agência, condição dos carros e motoristas antes de fechar o pacote. Essa busca pode começar antes da viagem, via Internet e conversando com pessoas que já estiveram lá.
Os jipes levam até 6 passageiros na travessia e serão esses os seus parceiros de quarto nas duas noites seguintes.
Na época de chuvas, de dezembro a março, o passeio fica muito mais perigoso devido a inundações e exige uma habilidade muito maior do condutor. Em compensação, a chuva forma um espelho d´água que reflete o céu e deixa o cenário ainda mais deslumbrante.
Itens obrigatórios:
Protetor solar e óculos escuros são itens obrigatórios no Salar. O sol refletido na brancura do solo pode causar queimaduras e danificar a visão.
A vacina contra a febre amarela é obrigatória para entrar na Bolívia. O cartão internacional deve ser obtido nos postos da Anvisa através da apresentação do cartão de vacinação nacional preenchido. Acesse o site e saiba onde fica o posto mais próximo de você.
Roupas de frio são essenciais. Apesar do sol, faz muito frio durante o dia e a temperatura cai ainda mais durante a noite. Saco de dormir é uma boa pedida.
Lindas fotos. Quando estive lá não estava alagado... Tem outro visual. Não gosto de repetir roteiros, mas acho que terei que voltar pra ver o Salar de Uyuni alagado...
ResponderExcluirBjs e boas viagens!
Carla
www.expedicaoandandoporai.blogspot.com