sábado, 2 de outubro de 2010

Alguns dias no Salar de Uyuni, na Bolívia

Na reportagem da jornalista Nara Mourão você vai descobrir os encantos de um passeio pelo maior deserto de sal do mundo: o Salar de Uyuni, na Bolívia. Boa leitura!

Entre o céu e o sal
Por Nara Mourão

Onde começa o céu e onde termina o chão? O Salar de Uyuni, o maior deserto salgado do mundo, impressiona o olhar dos incautos e dos que pensam já ter visto tudo. Os guias locais afirmam convictos que o artista catalão Salvador Dalí foi um dos visitantes que passou pela Bolívia e se encantou por aquele trecho do altiplano andino. “Surreal!” deve ter sido o comentário de Dalí diante da imensidão branca de 12 mil quilômetros quadrados.

Há 40 mil anos o Salar era um mar interior chamado Lago Minchin. Parte do lago secou formando os desertos de Uyuni e Coipasa, a outra teve como remanescentes atuais os lagos Poopó e Uru Uru. A porta de entrada do Salar é o povoado de Colchani, seus moradores vivem da extração do sal, são 25 mil toneladas retiradas todo ano. O sal é utilizado na fabricação de tijolos e matéria-prima do artesanato vendido aos turistas.

A cidade de Uyuni é o ponto de partida do passeio. Existem diferentes maneiras de conhecer o Salar, em carro alugado, particular ou via agência de turismo. A tração nas quatro rodas e guiar junto a uma frota são alguns dos pré-requisitos, já que não existem estradas oficiais e andar em círculos no deserto é mais fácil do que parece. Quem se aventura a conduzir no Salar, não o faz sem muito preparo anterior.

As agências são a opção da maioria dos viajantes. Existem pacotes curtos que restringem o passeio ao deserto de sal (duram um dia) ou pacotes clássicos, como o que cruza o Salar e termina em São Pedro de Atacama, no Norte do Chile (3 dias e 2 noites). Este trajeto contempla uma série de formações naturais que povoaram nossos livros de geografia e ajuda a acabar com a supremacia imaginária - dos turistas, diga-se de passagem - da lhama como único animal andino. Flamingos, vicunhas, alpacas e o coelho vizcacha preenchem o olhar com o novo.

Que esses animais não saibam o cardápio do primeiro almoço no cenário de cáctus da Isla del Pescado, uma das paradas em meio ao deserto. Segundo o guia-motorista-cozinheiro do meu grupo, autodenominado Charles Bronson por uma forçada semelhança física com o ator de faroestes, a carne que cozinhava desde cedo na parte de cima do carro era de lhama. Quando já estávamos abrigados na primeira hospedagem e Bronson, El Matador (inofensivo como uma alpaca) sugeriu que o frango fosse um delicioso flamingo comecei a colocar em xeque metade das altitudes que ele informava a cada 15 minutos percorridos.

O dia seguinte tem como gratas surpresas as lagunas altiplânicas, o terroso deserto do Siloli e uma formação curiosa que se assemelha a uma árvore moldada em pedra, a Árbol de Piedra. Ao longe, vulcões contribuem com a beleza do cenário. El Matador nos explica que esses montes ajudam na orientação devido à ausência de estradas e de um GPS. A segunda noite é num abrigo bastante precário dentro da Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa. Para compensar a inevitável falta de banho e o banheiro abaixo da crítica, delicie-se com a visão da Laguna Colorada e suas tonalidades que vão do marrom ao vermelho intenso, rica em microorganismos e flamingos.

No último dia, um conjunto de gêiseres logo ao acordar. A manhã começa com cheiro de enxofre e gosto de novidade. A mais de 4 mil metros de altitude, a Laguna Verde, fruto do magnésio das suas águas é o prato principal do café. No terceiro dia também é possível um banho em piscinas naturais bastante quentes (apesar de todo frio). Para sair da Bolívia, uma estranha taxa de 21 bolivianos é a propina para ter o passaporte carimbado. O destino agora é São Pedro de Atacama, ponto de partida para um deserto não menos repleto de histórias. Seguimos com as bênçãos de El Matador que retorna ao seu faroeste de sal.

Dicas:

Também é possível conhecer a região iniciando o passeio em San Pedro do Atacama. Ou, ainda, retornar a Uyuni no 3º dia sem entrar no Chile.

O ideal é chegar a Uyuni um dia antes do passeio para fazer os acertos com a agência, ter tempo de conversar com turistas recém-chegados do percurso, comprar água, papel higiênico, e “belisquetes” para comer no deserto enquanto a refeição seguinte não vem. A cidade é apenas um lugar de passagem, portanto não perca tempo por lá.

Vale pesquisar bastante sobre a agência, condição dos carros e motoristas antes de fechar o pacote. Essa busca pode começar antes da viagem, via Internet e conversando com pessoas que já estiveram lá.
Os jipes levam até 6 passageiros na travessia e serão esses os seus parceiros de quarto nas duas noites seguintes.

Na época de chuvas, de dezembro a março, o passeio fica muito mais perigoso devido a inundações e exige uma habilidade muito maior do condutor. Em compensação, a chuva forma um espelho d´água que reflete o céu e deixa o cenário ainda mais deslumbrante.

Itens obrigatórios:
Protetor solar e óculos escuros são itens obrigatórios no Salar. O sol refletido na brancura do solo pode causar queimaduras e danificar a visão.

A vacina contra a febre amarela é obrigatória para entrar na Bolívia. O cartão internacional deve ser obtido nos postos da Anvisa através da apresentação do cartão de vacinação nacional preenchido. Acesse o site e saiba onde fica o posto mais próximo de você.

Roupas de frio são essenciais. Apesar do sol, faz muito frio durante o dia e a temperatura cai ainda mais durante a noite. Saco de dormir é uma boa pedida.

Um comentário:

  1. Lindas fotos. Quando estive lá não estava alagado... Tem outro visual. Não gosto de repetir roteiros, mas acho que terei que voltar pra ver o Salar de Uyuni alagado...
    Bjs e boas viagens!
    Carla
    www.expedicaoandandoporai.blogspot.com

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